segunda-feira, maio 28, 2007

Sobre alguém conhecido


Sobre alguém conhecido






Conheço alguém que mora numa gaiola, que está a aprender a voar de novo. A olhar as asas de novo, a perceber a textura das penas, a reencontrar a alma de pássaro e homem. Parece-me no timbre de voz, na franqueza com que assume as suas ideias e as suas fragilidades, alguém bonito. Para falarmos ao telefone tem que ficar sempre no mesmo sitio..e isso faz-me rir e sorrir. Nas conversas o tempo voa e sinto que se partilham e contra-argumentam-se valores mas também fragilidades. Nas conversas sobre o Uzo, o Cavaleiro, As leis de Murphy, a inteligência emocional, as sinapses cerebrais criam um o espaço com outras dimensões. No entanto, ele não pode sair da fresta da janela, senão engaiola-se..Risos.



E pela primeira vez na vida alguém me mostrou a importância do chão pegajoso versus bolas de sabão. E isso faz me sorrir.



Quando falamos com alguém temos medo que não nos aceitem. Como se da aceitação do outro viesse a confirmação do nosso valor. E nós somos o que somos independentemente da aceitação. Talvez as pessoas que não nos aceitem nos façam um favor: deixar espaço aberto para conhecermos as que nos aceitam ou pelo menos aquelas que tem a alma aberta para se conhecerem.



Talvez até nem seja tão importante que nos aceitem. Precisamos é de nos aceitar. Talvez não seja tão importante a quem amar, precisamos é de nos amar a nós mesmo para poder aceitar de alma aberta as pessoas que pela nossa vida passam para mostrar outros prismas, outras opiniões, outras formas de estar e de ser.



Estou deserta que essa pessoa se começe a amar a si mesma porque, do poucochinho que conheço, me parece ter muitas razões para isso. Apesar de eu em nada poder contribuir para isso, torço para que isso aconteça, que encontre mil e um motivos para se achar bem consigo
mesmo.
O tempo é fantástico para os caminhos dos ermitas.

domingo, maio 20, 2007

A Animação saiu à rua

Uma sugestão de lazer...


O frio era imenso mas valeu a pena tentar perfurá-lo. Eram centenas de pessoas na rua e a criatividade sentia-se omnipotente. Desde palhaços Italianos que tinham saltado de um filme do Felini; animações com fogo; desfiles de noivas na rua; juntas de bois que puxavam um mastro enorme; música arábe e tantas tantas coisas que só com um par de olhos eram impossiveis de sorver porque aconteciam em simultâneo em vários espaços de Santa Maria da Feira. O riso, as gargalhadas e os olhares esbugalhados passeavam nas ruas na esperança de que o tempo fosse relativo e a animação se prolongasse nas reticências das horas. Também houve espaço para pipocas quentinhas com pouco corante...cumplicidades de amigos...risos
Deixo-vos o link para poderem explorar esta iniciativa. Pode ser que no próximo ano vos tenha conseguido abrir o apetite e venham também comnosco.


http://www.imaginarius.pt/

quinta-feira, maio 17, 2007

Um pedaço de mim hoje...sem referências



Muitos pensarão que é preciso mentir, jogar, iludir, manipular para serem aceites. Existe a crença na sedução que o olhar doce e firme, as palavras certas, a personagem bem criada abrirão as portas da intimidade e da popularidade de cada um. Não posso estar mais em desacordo, até porque, o tempo é o nosso melhor amigo. Nenhuma personagem dura sempre, nenhum jogador consegue estar sempre atento ao seu registo. Um dia, ao acaso, sem querer,o verniz estala e mostra o seu verdadeiro interior. Parte triste da história? A ausência de entrega, de autenticidade e da verdadeira construção de pontes de intimidade entre si e o outro. E não falo só no amor. No amor e na amizade há quem idealize as suas relações como jogos de xadrez, alternando estratégias de avanços e recuos consoante o adversário que se lhes depara. Acerta pequenos detalhes em função da inteligência do "suposto" adversário. E coloca-se a questão: porquê ver as relações e a vida como um jogo? Porque a exposição, a intimidade, o medo de deixar alguém entrar no interior e expor-se é GIGANTE. Porque é GIGANTE O MEDO DE NÃO SER ACEITE. Porque é notória a aposta no EGO E NÃO NA AUTO ESTIMA. Porque os outros aparecem como INSTRUMENTOS e não como COMPLEMENTOS.

Mas a parte bela das relações é essa mesmo : alguém ser nosso (a) amigo(a) , namorado (a) sendo como somos. Com dias bons e outros nem por isso. Com dias de choro imenso e com dias de gargalhadas borboletas, com manhãs a precisar de um xi coração e noites a dar uma força gigante. Porque a autenticidade, o respeito, a descoberta são os maiores tesouros que daqui, do plano terreno podemos levar. Deixo-vos também esta pergunta para pensarem:

- Não temos todos paisagens, desportos, danças, livros, músicas, filmes, conversas, teatros interessantes para colhermos? Porque é que uns preferem crescer, encontrar-se cada vez mais consigo mesmos e depois partilhar e outros preferem dissimular, jogar ou vitimizar-se como se as oportunidades fossem diferentes?

Toda e qualquer relação para mim só faz sentido de coração e alma aberta. Em que se exponham medos, inseguranças e tesouros para fazermos de nós e dos outros melhores. Não importa sermos diferentes, importa é sermos autênticos. Mas essa intimidade é demorada, construida e nunca instantânea. Porque jogo por jogo, ego por ego é volátil e rapidamente acaba, transformando supostas pontes em precipicios !!!!

terça-feira, maio 15, 2007

Todos nascemos com poesia e esta é depois, lentamente, sufocada dentro de todos nós

Para pensarmos e comentarmos... uma experiência sociológica e artística


Numa experiência inédita, Joshua Bell, um dos mais famosos violinistas do Mundo, tocou incógnito durante 45 minutos, numa estação de metro de Washington, de manhã, em hora de ponta, despertando pouca ou nenhuma atenção. A provocatória iniciativa foi da responsabilidade do jornal "Washington Post", que pretendeu lançar um debate sobre arte, beleza e contextos. Ninguém reparou também que o violinista tocava com um Stradivarius de 1713 - que vale 3,5 milhões de dólares.

http://www.youtube.com/watch?v=hnOPu0_YWhw


Três dias antes, Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam 100 dólares, mas na estação de metro foi ostensivamente ignorado pela maioria.
A excepção foram as crianças, que, inevitavelmente, e perante a oposição do pai ou da mãe, queriam parar para escutar Bell, algo que, diz o jornal, indicará que todos nascemos com poesia e esta é depois, lentamente, sufocada dentro de todos nós.
"Foi estranho ser ignorado"Bell, que é uma espécie de 'sex symbol' da clássica, vestido de jeans, t-shirt e boné de basebol, interpretou "Chaconne", de Bach, que é, na sua opinião, "uma das maiores peças musicais de sempre, mas também um dos grandes sucessos da história". Executou ainda "Ave Maria", de Schubert, e "Estrellita", de Manuel Ponce - mas a indiferença foi quase total. Esse facto, aparentemente, não impressionou os utentes do metro. "Foi uma sensação muito estranha ver que as pessoas me ignoravam", disse Bell, habituado ao aplauso.

"Num concerto, fico irritado se alguém tosse ou se um telemóvel toca. Mas no metro as minhas expectativas diminuíram. Fiquei agradecido pelo mí­nimo reconhecimento, mesmo um simples olhar", acrescentou.

O sucedido motiva o debate foi este um caso de "pérolas a porcos"?

É a beleza um facto objectivo que se pode medir ou tão-só uma opinião? Mark Leitahuse, director da Galeria Nacional de Arte, não surpreende: "A arte tem de estar em contexto". E dá um exemplo: "Se tirarmos uma pintura famosa de um museu e a colocarmos num restaurante, ninguém a notará". Para outros, como o escritor John Lane, a experiência indica a "perda da capacidade de se apreciar a beleza". O escritor disse ao "Washington Post" que isto não significa que "as pessoas não tenham a capacidade de compreender a beleza, mas sim que ela deixou de ser relevante".

domingo, maio 13, 2007

Sunset - Nitin Sawhney

Esta música faz me viajar com a mente. O melhor albúm para mim é Beyond the Skin

sábado, maio 12, 2007

Hable con ella de Pedro Almodovar

Este fim de semana ofereceram-me este filme.Já o vi há muito tempo e reve-lo vai ser um magnifico.Um verdadeiro banho de alma. As imagens são poderosas, a música sublime, o enredo apaixonante. Neste filme misturam-se paixões, música, arte, dança e uma sensibilidade de cortar a respiração. Ficam com este pedacinho para vos poder abrir a curiosidade de o verem...

terça-feira, maio 08, 2007

O Cavaleiro da Aramadura Enferrujada

Mais um livro simples e sábio que me apetece partilhar contigo....ou no plural

" -Mas não tenho tanto medo quanto costumava ter - declarou o cavaleiro.

- Se é como dizes, então liberta-te, e confia - disse Sam.

- Confio em quem? - retorquiu impetuosamente.Não queria saber mais da filosofia de Sam.

- Não é em quem- Sam replicou- não é um quem mas um quê!

-Um "quê"? - interrogou o cavaleiro

-Sim-confirmou Sam. - Um quê, a vida, a força, o universo, deus, o que quiseres chamar-lhe.

O cavaleiro espreitou por cima do ombro para o abismo, aparentemente sem fim, que se estendia abaixo de si.

- Liberta-te-murmurou Sam insistentemente.

O cavaleiro não parecia ter escolha. estava a perder as forças rapidamente e o sangue gotejava das pontas dos seus dedos que o prendiam à pedra. Acreditando que iria morrer, o cavaleiro soltou-se e mergulhou nas infinitas profundezas das suas memórias.

Relembrou todas as coisas na sua vida, pelas quais atribuira culpas à sua mãe, ao seu pai, aos seus professores, à sua mulher, ao seu filho, aos seus amigos e a todas as outras pessoas. À medida que se agundava no vazio, libertou-se de todos os julgamentos que fizera contra eles.

Caía cada vez mais depressa, estonteado, enquanto a sua mente descia até ao coração. depois, pela primeira vez, viu a sua vida com clareza, sem julgamentos nem desculpas. Nesse instante aceitou a responsabilidade total pela sua vida, pela influência que as pessoas tinham tido nela e pelos contecimentos que lhe tinham dado forma.

A partir deste momento, não voltaria a responsabilizar ninguém senão ele próprio pelo erros cometidos e pelas desventuras que o atingissem. O reconhecimento de que ele era causa, e não efeito, deu-lhe uma nova sensação de poder. Deixara de sentir medo."

Fisher, Robert- O cavaleiro da Armadura enferrujada, pg 69, 70, Editorial Presença, 2006